domingo, 8 de novembro de 2009

A Paixão Segundo C.N.

E lá estava ela. A tão temida barata.
Nunca fui muito boa em domar os pequenos insetos. Eles me dão um certo nojo, oferecem um perigo que eu sei que não existe, mas que me deixa paralisada.
E de repente, quando ela me viu, se enveredou pelo armário. Não poderia ser pior. O medo tomou conta. Comecei a chorar. Quem ia matar a barata pra mim? E foi aí que me dei conta que teria que cometer o homicídio sozinha.
Procurei no armário, entre os sapatos e ela tinha fugido. Exausta, resolvi me deitar. Deixei o abajur aceso, não conseguia pregar os olhos. E se a maldita viesse para a cama enquanto eu dormia? Dormi com a luz no meu rosto (ouvi em algum lugar que as baratas se afastam da luz - será isso verdade?). Tive pesadelos, acordei diversas vezes na noite. Infeliz inseto!
No outro dia, resolvi que me armaria para o combate final. Fui no supermercado e me muni do spray de última geração (que mata até protozoário de barata) e das armadilhas em forma de iscas. A Pequena veio para me dar um "amoio poral", como ela mesma diz.
Abri o armário novamente. O medo subiu pela minha espinha, chegou até os olhos e saiu em forma de uma lágrima. E foi assim, uma lágrima pra cada peça de roupa que eu tirava do armário. E a Pequena em cima do banco, se derretendo de rir no maior amoio poral. Eu ria às vezes. Confesso que a situação era muito ridícula.
O armário já estava vazio. Nem resquício da maldita. Deixei metade do vidro de spray nos cantos e coloquei as iscas em lugares estratégicos. Tentei acreditar na hipótese da Pequena de que ela tinha voltado para seu lar, junto com os seus, ou seja, voltou para o ralo de onde nunca deveria ter saído.
Me conformei. A batalha terminou sem vítimas, pelo menos por enquanto.
Fui dormir, dessa vez sem luzes e sem pesadelos, acreditando que um dia as baratas se dão conta de sua ineficiência e retornam ao lar, sem incomodar mulheres sozinhas e indefesas.
Porém, no meio da noite, começo a ouvir um barulho aterrorizante. Era a maldita de volta, pensei, andando pelos trilhos da persiana. Fiquei imóvel na cama por mais de 15 minutos, querendo que aquilo fosse um pesadelo e esperando por não sei o que. Fiquei com medo de ligar a luz, de assustá-la, mais ainda do que eu. Mas decidi que teria que cometer o ato. Se eu não fizesse, quem faria por mim? Sai da cama, pé ante pé, e busquei minhas armas na lavanderia. Voltei ao quarto e ela já estava no chão, vindo em minha direção. Foi tudo tão rápido e intenso que nem pensei o que faria. Ela se aproximou e descarreguei o resto do spray naquele bicho tão nojento. Ainda insatisfeita, peguei minha outra maior arma, o rodo, e a esmaguei até que suas tripas saíssem para fora. Quando já não podia ver o reflexo de seus pequenos membros, parei num impulso. Caí exausta na cama, cansada e satisfeita com o homicídio cometido. Meu corpo todo tremia, meu coração batia forte e minha mente estava aliviada.
Eu tinha me superado, tinha enfrentado meu medo e resolvido alguma coisa por mim mesma.